A análise de elementos finitos é amplamente utilizada na validação de vasos de pressão, e a ASME, que é uma das principais normas americanas que “legislam” esse tipo de equipamento, possui vários requisitos para a análise de tensões.
O objetivo deste artigo é resumir os conceitos de análise de tensão explicados no capítulo 5 da norma, bem como esclarecer algumas características do ponto de vista prático de modo a auxiliar o analista a tomar decisões para enquadrar as tensões atuantes e compará-las com os limites estipuladas para cada categoria.
A verificação das tensões de Von Mises em análises lineares de acordo com a ASME VIII Div 2 deve ser separada em categorias denominadas de primária, secundária e pico, sendo definido um limite de tensão para cada uma delas.
Antes de entrar no detalhe das categorias, é necessário entender os tipos de tensão que são considerados:
Figura 1 - Exemplo da tensão de membrana.
Figura 2 - Exemplo da tensão de flexão.
Os tipos de tensão possuem limites admissíveis diferentes, e por este motivo é necessário separá-los no momento da análise das tensões no software de elementos finitos.
Se você entender o conceito de cada categoria, fica muito mais fácil de realizar os julgamentos necessários e determinar se o equipamento está reprovado ou não.
Voltando a explicação sobre categorias de tensão, temos:
Tensões Primárias:
São desenvolvidas por uma carga capaz de satisfazer as leis de equilíbrio de forças e momentos atuantes no vaso de pressão. Caso as tensões primárias excedam o limite de escoamento do material, o equipamento sofrerá falha ou pelo menos grandes distorções. Esse tipo de tensão deve ser associado com tensões homogêneas no vaso de pressão capaz de equilibrar as forças e momentos atuantes no equipamento.
As tensões primárias devem ser analisadas de acordo com as verificações abaixo:
Diante dessa explicação, é necessário entender o conceito de descontinuidade e concentração de tensão:
Figura 3 - Descontinuidade entre costado e tampo.
Figura 4 - Descontinuidade entre flange e costado.
Figura 5 - Descontinuidade entre o bocal e costado.
Figura 6 - Descontinuidade entre costados de diferentes diâmetros.
Algumas plotagens com exemplos de tensão primária são mostradas abaixo:
Tensão de Membrana Generalizada – o foco está nas regiões longe de descontinuidades e concentradores de tensão. Tensões devido a forças mecânicas.
Figura 7 - Probe nas regiões de tensão de membrana generalizada.
Tensão de Membrana Localizada – o foco está na região de descontinuidades “Gross Structural Descontinuites”, desprezando concentradores de tensão. Tensões devido a forças mecânicas.
Figura 8 - Tensões de membrana localizada.
Tensão de Membrana Localizada + Flexão – o foco está nas regiões longe a descontinuidades considerando a parcela de flexão, ocasionadas por forças mecânicas.
Figura 9 – Tensões de membrana localizada + flexão.
Tensões Secundárias:
A principal característica das tensões secundárias é de ser “self-limiting”, ou seja, caso as tensões secundárias excedam o limite de escoamento existirá uma redistribuição de tensão, e a falha não existirá.
As tensões secundárias podem ser ocasionadas por forças mecânicas e reações devido a expansão térmica.
São desenvolvidas por descontinuidades, entretanto, concentrações de tensão localizadas são desprezadas. Exemplos da tensão secundária são tensões térmicas e tensão de flexão em descontinuidades “Gross Structural Discontinuity”.
Figura 10 - Tensões secundárias (membrana + flexão) - próximo a união do bocal.
Tensões de Pico:
As tensões de pico são as tensões adicionais existentes em regiões bem localizadas, sendo importantes para a análise de fadiga.
Caso as tensões de pico excedam o limite de escoamento existirá uma redistribuição de tensão, e a falha não existirá.
As tensões de pico são fontes de iniciação de trincas de fadiga, e alguns exemplos são citados abaixo:
Ainda tem dúvida de como categorizar as tensões provenientes dos resultados obtidos na sua análise. Acesse 2 tabelas extremamentes úteis da ASME que vai te auxiliar:
Conseguiu entender o conceito de análise de tensões de acordo com a ASME? Segue um resumo abaixo:
As tensões primárias são aquelas que se distribuem por uma grande parte da estrutura e estão ligadas ao modo de falha de colapso plástico. Dessa maneira essas tensões não podem em nenhuma situação ultrapassar o limite de escoamento. Apenas as cargas mecânicas são consideradas nessa categoria de tensão.
As tensões secundárias são localizadas, desprezando as concentrações de tensão, e caso ultrapassem o limite de escoamento, as deformações plásticas tendem a se estabilizar pois são auto limitadoras. Dessa maneira o limite das tensões secundários é superior ao das tensões primárias. As tensões térmicas são consideradas nessa categoria de tensão.
As tensões de pico são aquelas que consideram as descontinuidades e concentradores de tensão, levando em consideração cargas mecânicas e térmicas. As tensões dessa categoria estão relacionadas ao modo de falha de fadiga.
No caso informado, Vasos de Pressão tem referencias construtivas dadas pelo código ASME VIII - Divisões I e II... e não somente Divisão II. Abraço!!
A divisão 1 tem como critério de projeto a máxima tensão de ruptura, a divisão 2 tem como critério a máxima energia de distorção - Von Misses, a divisão 3 utiliza o critério de Tresca, possui um critério de projeto ainda mais rigoroso e utilização de materiais mais restrita.
Gostei dos comentários técnicos de especificações de tensões em estrutura de costados. Conceitos que certamente podem ser estendidos a outras estruturas. Porém creio que me faltou maior clareza na separação conceitual entre tensão secundária e de pico.
Gostaria de receber mais informações deste assunto, inclusive palestras e/ou treinamentos.
Jordão
As tensões secundarias do ASME sao aquelas que combinam tensoes de membrana e tensões localizadas de membrana tambem e esta limitada a 1.5 S as tensões tercearias envolvem distorções devido a efeito de momento, onde temos tensao de membrana devido a pressao, tensao de membrana local e ainda tensões devido a momentos na parede do vaso sriam limitadas a 3S, isto é Sa= 2/3 Sy x 3 = Sy, podendo chegar ao escoamento, caracterizada por deformações locais.
Bom dia !
Por favor, se me permitir queria lhe fazer 03 perguntas básicas sobre a ASME VIII div-02 que não muito claras para mim nesta norma e tem como objetivo entender como aprovar um componente pela ASME VIII div-02
Pergunta 1: Tenho que fazer os itens a,b,c,d (todos os quatro, talvez exceção ao “d” caso não ocorra fadiga ) do item 5.1.1.2 para aprovar o componente ?
Pergunta 2: Se uma das alternativas do item 5.2.1.1 atender já é suficiente e posso passar para outro item ( exemplo passou na a elastic stress, sigo ) ou ainda, se não passar em um, posso tentar com o outro até obter o que passa ?
Pergunta 3 A verificação de Racheting item 5.5.6 , deve ser sempre feita ?
Agradeço sua orientação