INTRODUÇÃO

Fizemos um artigo no passado, explicando a importância de se aplicar o torque correto em parafuso.

Apresentamos o conceito da força de pré carga que é gerada pela aplicação do torque, sendo essa força a mais importante para ser controlada em uma união parafusada.

MÉTODOS DE APERTO DE PARAFUSO

Alguns métodos utilizados para “controlar” a força de pré carga são detalhados abaixo:

Maneiras de se aplicar o torque

Os métodos mais precisos para a verificação da força de pré carga são os dois últimos da tabela acima (Alongamento e Extensômetro).

Neste artigo vamos apresentar o passo a passo para instalar o extensômetro em parafusos, para que no final seja possível ter um parafuso sensorizado pronto para o uso em alguma aplicação especifica onde seja necessário medir a força de pré carga.

Ao final de todas as etapas ele ficará como mostra a imagem abaixo:

Parafuso sensorizado finalizado

Figura 1 - Parafuso sensorizado pronto para uso.

O extensômetro é instalado em um furo realizado no centro do parafuso, de acordo com a imagem abaixo:

Vista em corte com detalhe do sensor dentro do parafuso

Figura 2 - Extensômetro instalado dentro do furo do parafuso.

PASSO A PASSO PARA FABRICAR O PARAFUSO SENSORIZADO

O passo a passo para a instalação do extensômetro no parafuso é o seguinte:

  • Passo 1 – Furar o parafuso:
    • O furo deve ser bem centralizado, sendo importante atender as dimensões de diâmetro e comprimento fornecidas pelo fabricante do sensor.
  • Passo 2 – Limpar o furo:
    • O furo deve ser limpo com álcool isopropílico ou acetona.
  • Passo 3 – Colagem do Extensômetro no Parafuso
    • O extensômetro deve ser colado no parafuso com colas especiais, atendendo o processo de cura a temperaturas pré determinadas.

Sensor sendo inserido dentro do parafuso

Figura 3 - Extensômetro sendo inserido no furo .

  • Passo 4 – Conexão do Extensômetro com Fio Externo:
    • O extensômetro deve ser conectado com fios externos que possibilitem a medição da deformação em módulos específicos e apropriados.

Conexão do parafuso com o fio externo

Figura 4 - Conexão com o fio externo.

  • Passo 5 – Calibração do Sensor:
    • O parafuso deve ser submetido a um teste, em uma máquina de tração, onde são aplicadas forças axiais e verificado os resultados obtidos pelo extensômetro. Todas as cargas aplicadas estão dentro do regime elástico do material e tem como principal objetivo verificar a efetividade da instalação do sensor e a linearidade dos resultados obtidos.
    • A relação entre força aplicada e resposta do sensor, fornece um coeficiente de calibração que relaciona a força de pré carga no parafuso com a deformação do sensor.

Ensaio de tração no parafuso sensorizado

Figura 5 - Parafuso sumetido a ensaio de tração para calibração do sensor.

  • Passo 6 – Utilização do Parafuso Sensorizado:
    • O parafuso sensorizado está pronto para ser utilizado, e para isso é necessário conectar os fios em uma placa de aquisição apropriada para extensômetros.

Setup para coleta de dados do extensômetro

Figura 6 - Setup para medição do parafuso sensorizado.

    • À medida que o torque for aplicado no parafuso, o valor da força de pré carga será apresentado na tela do computador.

Torque sendo aplicado no parafuso

Figura 7 - Torque sendo aplicado no parafuso sensorizado.

A resposta de deformação do sensor durante a aplicação do torque pode ser visualizada abaixo:

Gráfico de deformação x tempo

Figura 8 - Gráfico de Deformação x Tempo.

Multiplicando a deformação pelo coeficiente de calibração, é possível obter a resposta da força de pré carga aplicada, conforme é mostrado abaixo:

Gráfico de pré carga x tempo

Figura 9 - Gráfico de Força de Pré Carga x Tempo.

ENTENDENDO NA PRÁTICA A IMPORTÂNCIA DA PRÉ CARGA EM PARAFUSO...

Em qualquer projeto que haja parafusos, o torque é calculado a partir da força de pré carga necessária para garantir que a união não se separe e que não haja flutuações de tensão no parafuso (já falamos sobre isso em nosso artigo).

No final das contas, o torque é uma maneira mais fácil, rápida e barata de se controlar, entretanto pode não ser preciso o suficiente.

Agora, faremos o inverso, vamos aplicar 30N.m no parafuso sensorizado e calcular a força de pré carga teórica para posteriormente compará-la com o valor obtido pelo sensor.

Torque sendo aplicado no parafuso

Figura 10 - Torque sendo aplicado no parafuso.

Para o experimento, utilizamos um torquímetro de vareta, que não é nada preciso devido principalmente a sua dificuldade de medição.

Detalhe da marcação de 30Nm

Figura 11 - Marcação de 30N.m no torquímetro.

A força de pré carga teórica pode ser calculada pela equação abaixo:

Equação de pré carga

Variáveis da equação de pré carga

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O coeficiente de torque depende da maciez da superfície, acurácia e grau de lubrificação, em outras palavras, é um coeficiente que mede todos os atritos envolvidos durante o aperto do parafuso.

A grande variação das amplitudes de pré carga, se dá por conta dos valores que podem ser utilizados para este coeficiente. Já é fácil imaginar que esse fator pode variar drasticamente se a rosca de um parafuso estiver limpa ou suja, lubrificada ou enferrujada, e assim por diante.

Geralmente, o valor do coeficiente de torque nominal é adotado entre 0,15 a 0,3. Para este experimento adotaremos 0,2.

Fazendo esse cálculo para o parafuso em questão, temos:

Cálculo da força de pré carga

De acordo com o gráfico de pré carga do parafuso sensorizado, o valor da pré carga relativo aos 30N.m é obtido no patamar mostrado abaixo:

Detalhe da marca de 30Nm aplicada pelo torquímetro

Figura 12 - Força de pré carga do parafuso sensorizado.

O valor de pré carga é de 7.140,0N.

COMPARATIVO

Fazendo o comparativo entre os valores de pré carga obtidos pelo torquímetro de vareta e o parafuso sensorizado, temos:

Tabela comparativa entre resultados do torquímetro e sensor

A variação é maior que 100%!!

A interpretação desses valores deve ser feita da seguinte forma:

  • Imagine que o torque de projeto para esse componente seja de 30N.m, e a força de pré carga seja de 15.000,0N. Ou seja, é necessário garantir que os 15.000,0N sejam aplicados na união parafusada.
  • Quando você utiliza o torquímetro de vareta e chega a 30N.m está na verdade aplicando apenas 7.140,0N de pré carga. Essa pré carga é muito abaixo do que realmente deveria ser aplicado.
  • No final das contas, podemos concluir que utilizando o torquímetro de vareta não foi aplicado a força de pré carga necessária para esta união parafusada.

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Conseguiu entender na prática? Se ficou alguma dúvida, deixe seu comentário...

Não é à toa que empresas automobilísticas, aeronáuticas entre outras que precisam garantir um torque correto em componentes gastem milhões para controlar esse parâmetro.

A Ensus é especializada na fabricação de parafusos sensorizados, podendo oferecer o serviço de instalação, calibração e medição de parafusos de acordo com a especificação do cliente.

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Contate-nos através do e-mail atendimento@ensus.com.br para saber mais sobre esses serviços.

Confira também nosso canal no YouTube para ver um pouco mais como trabalhamos.

Como medir torque em eixos com extensômetros?

A necessidade de medir torque em equipamentos pode ser dos mais variados, podendo estar relacionado com investigação de falha, determinação da potência mecânica ou até de maneira preventiva.

Para ilustrar o procedimento de medição de torque em eixos vamos utilizar um tubo em que será possível fazer a instalação dos sensores como também a validação dos resultados dos testes através da análise de elementos finitos.

Teste de torque

Figura 1 - Teste experimental de torque e análise de elementos finitos, respectivamente.

 

Neste teste, os extensômetros foram posicionados no meio do tubo e uma força pré determinada foi aplicada na haste para produzir um torque conhecido.

Demonstração do teste de torque

Figura 2 - Setup para teste de torque.

 

O sensor utilizado para a medição do torque é o extensômetro (ou strain gauge) que mede a deformação superficial do material quando submetido a carregamentos externos. Se quiser aprender mais sobre os extensômetros, acesse nosso artigo: Extensômetria (Strain Gauge)  - O que é? Quando utilizar?

Para esta aplicação é necessário utilizar a configuração de ponte completa, onde são instalados 4 extensômetros para a obtenção de um resultado de torque.

 

Os extensômetros utilizados são do tipo espinha de peixe, em que a grade do sensor é disposta a 45° da linha horizontal, conforme imagem abaixo:

Extensômetro tipo "Espinha de peixe"

Figura 3 - Extensômetro do tipo "espinha de peixe".

 

Essa disposição é por conta da direção da deformação principal de um elemento submetido puramente a torção ser de exatamente 45° em relação ao eixo longitudinal, conforme imagem abaixo:

Direção das tensões principais quando submetido a torque

Figura 4 - Direção das máximas deformações principais.

 

Foram posicionados 02 extensômetros do tipo “espinha de peixe” defasados 180° um em relação ao outro, conforme é mostrado na imagem abaixo:

Vista isométrica detalhando posicionamento dos extensômetros

Figura 5 - Vista isométrica do tubo com referências das vistas.

Vistas superior e inferior para monstrar o posicionamento dos extensômetros

Figura 6 - Detalhe com posicionamento dos extensômetros.

Vista frontal do posicionamento dos extensômetros

Figura 7 - Detalhe com posicionamento dos extensômetros.

 

Posicionamento longitudinal dos extensômetros no protótipo de torque

Figura 8 - Psicionamento longitudinal do extensômetro.

 

Posicionamento radial dos extensômetros no protótipo de teste de torque

Figura 9 - Psicionamento radial dos extensômetros (180°).

 

Imagens superior e inferior detalhando o posicionamento dos extensômetros no protótipo de torque

Figura 10 - Psicionamento dos extensômetros (top e bottom).

 

Após o posicionamento dos sensores, toda a ligação e cabeamento foi realizada:

Detalhe do conector utilizado

Figura 11 - Cabeamento e conector.

 

Para coleta de dados foram utilizados equipamentos National Instruments, sendo o chassi cDAQ-9191 e Módulo de aquisição NI 9237.

Detalhe do módulo e chassis utilizados para obter os dados do teste de torque

Figura 12 - Chassis cDAQ-9191 e módulo NI-9237.

 

O cabo RJ50 foi conectado ao módulo NI-9237, como mostra a imagem abaixo:

Conexão do cabo com o conector

Figura 13- Conexão entre o cabo RJ50 e módulo NI-9237.

 

O resultado do teste é apresentado abaixo:

  • Inicialmente o torque é zero (pois não existe força externa aplicada ao tubo) e logo após 75 segundos de teste, é aplicado a força de 13,0kgf(127,5N) na haste gerando uma deformação de ~4,455E-5.

    Gráfico de deformação x tempo

    Figura 14 - Gráfico de Deformação x Tempo.

Levando em consideração que o tubo apresenta deformações dentro da zona elástica e aplicando a Lei de Hooke para transformar deformação em tensão, considerando o módulo de elasticidade como 200GPa, temos:

Gráfico de tensão x tempo

Figura 15 - Gráfico de Tensão x Tempo.

 

Considerando a mesma carga e condição de restrição, os resultados da análise de elementos finitos são apresentados abaixo:

Teste de torque no FEA

Figura 16 - Condições de restrição para análise de elementos finitos.

 

Resultado da resposta ao torque na posição do extensômetro

Figura 17 - Vista ISO com o resultado da tensão de cisalhamento.

 

A comparação entre o teste experimental e a análise de elementos finitas é apresentada na tabela abaixo:

Comparação dos resultados do teste de torque e fea

O interessante desse tipo de instalação é que o resultado obtido é referente apenas a torção no tubo, e as deformações relativas a outras solicitações (ex. flexão, tração ou compressão) não são medidas pela maneira que os extensômetros estão dispostos no componente. Isso se torna muito interessante para aplicações onde é necessário medir apenas o torque de um eixo ou algum componente que esteja submetido a torção.

 

Ficou alguma dúvida sobre esse tipo de instalação ou tem alguma aplicação em que seja interessante esse tipo de medição? Compartilhe conosco e deixe seu comentário abaixo.

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